30 de abril de 2009

O Nariz

“Nariz, ai, meu nariz” já disse o artista único do Circo Sdruws, Juca Chaves. E que nariz, cá entre nós!

Mas o texto não é pra homenagear Juca Chaves — ainda que sempre merecido —, ou qualquer personagem que disponha de uma “nareba” respeitável. Se o texto homenageia alguma coisa, essa coisa é o nariz.

Mas a ideia de falar sobre uma parte do corpo humano começou quando percebi que em algumas vezes alguém nos chama a atenção e não sabemos o porquê. Pelo menos comigo isso acontece muito e não foi diferente na semana passada.

Num restaurante, me dei conta, de uma hora pra outra, que eu não parava de olhar a pessoa da outra mesa. Fiquei sem jeito, sem graça. Se eu ainda estivesse interessado … mas não era o caso. Como um ímã, os meus olhos eram atraídos para o rosto da moça, que nem era bonita o suficiente pra chamar a atenção. Mas lá estava eu, encarando aquele rosto.

Num lance, percebi! Era o nariz! Não o meu, ainda que seja uma bela bitácula.

A moça tinha um nariz perto da perfeição. O tamanho exato. Arrebitado, dando um ar de imponência, mas sem confundir com pretensão afetada. Destoava de restante do rosto, chamando a atenção para si. Um nariz com personalidade.

Não é o caso de escrever um tratado sobre o nariz, mas achei que merecia uma atenção maior. Afinal – lembrei depois – já conheci pessoas com narizes que roubam o ar ao redor, mas que no entanto, na combinação geral, fazem bonito na apresentação do visual.

Claro, há também os que estragam, totalmente, a aparência. Tem aqueles “atucanados”, que sequestram o oxigênio — e tudo que puder ser respirável — e enfeiam o ambiente.

Mas vejam só! Quem diria que o nariz consegue modificar o aspecto de um rosto, mais do que a cor dos olhos! Se nariz fosse natural de algum local, eu diria que ele é mineiro. É quietinho, na dele, não passa batom, não usa rímel, não tem cílios como moldura, mas é capaz de dar, ou tirar, o ar da graça de uma face.

Não que a boca, os olhos ou as orelhas não tenham importância. Claro que têm! Mas é o nariz que mais contribui. É ele que faz o “fechamento” da feição.

Bem, pessoal, eu acho que é isso.

Um cheiro procês!

27 de abril de 2009

Suíte High Tech

Aquela faixa enorme, gigantesca, na entrada camuflada, assustava e dava margens a diversas interpretações.

Comecei a me imaginar numa noite, sozinho, sem nada pra fazer. Poxa! Uma suíte high tech, tem que oferecer, no mínimo, uma companheira, ou um companheiro para as senhoras, de alta tecnologia. Coisa de ponta, mesmo.

Então, resolvo ir conferir.

– Boa noite!

– Boa noite senhor! – Em que posso lhe ajudar?

– Gostaria de usar a suíte High Tech.

– Pois não! – O senhor está só ou acompanhado?

– Estou só! Bem, tem a minha mão mas acho que essa não conta.

– Está certo senhor. Existirá taxa extra, que dependerá das suas escolhas. Que tipo de companhia o senhor prefere?

– Como assim?

– Comer não, aqui o senhor apenas escolhe. Temos loira, ruiva, seios fartos, nádegas grandes, tipo melancia, uva, abacaxi ou outra fruta qualquer. Floresta densa, cerrado, bigodinho ou deserto completo, o senhor decide. Temos também gays, casais, velhinhos e velhinhas. Aqui o freguês manda! – Senhor, senhor! Está me ouvindo?

– Sim, sim! Estava imaginando a mulher abacaxi! Vocês tem um papel para que eu possa fazer a minha montagem? – Ouvi ele cochichando para o colega: “Hii! Esse é daqueles indecisos”

– Perfeitamente! Temos, também, diversos acessórios. Gostaria de conhecê-los?

– Porque não? Estou aqui mesmo! Vamos lá! O que vocês têm?

– Temos banheira de ondas; tocador automático, que pode ser sem limite ou com fichas; máquina de café expresso; tipos variados de infláveis; vibradores, do tipo simples, duplo, triplo e quádruplo; parede de pedra para escaladas – fiquei pensando em como o sujeito transa, enquanto escala, ou o inverso.

– É só!

– Não, senhor. Temos os acessórios de apoio, como a TV de 52 polegadas com Home Theater, cama vibratória de 5 velocidades e 3 posições, fantasias do Robocop, Super-homem, National Kid, Battman, Robin, Flash, alguns políticos, além de um modelador instantâneo.

– Modelador o quê?

– Instantâneo senhor! Se quiser alguma fantasia que não esteja disponível, basta inserir a foto da pessoa, que o equipamento gerará a fantasia desejada. — Pensei, “imagine colocar a foto de um chefe ou um desafeto”!

– Estou gostando! O que tem mais?

– Senhor, temos tantos — o senhor aceita um café? —, tantos itens disponíveis, fora aqueles que podem ser desenvolvidos pela nossa equipe de design e oficina. Além disso …

– Quando eu dei por mim, eu já estava ali, apenas pra escolher o que eu queria, há mais de 3 horas. O sono já começa a incomodar. E o atendente não parava de explicar.

– Temos também babás de várias nacionalidades que poderão colocá-lo pra dormir.

– Sei! Sei! Meu amigo, vou deixar pra outro dia, pois hoje nada mais sobe. — Eu já sei! Vocês tem um acessório para essa situação, mas hoje, realmente, não vai dar.

– O senhor decide. Aqui está a sua conta.

– Conta? Que p.... de conta é essa? Só por causa do café?

– O café, o tempo que eu fiquei lhe explicando. Sim, pois sou engenheiro e administrador por Harvard, com pós-doutorado em SCFS (Sistemas Cibernéticos com Foco na Sacanagem).

– Sacanagem é que vocês estão fazendo comigo!

– Infelizmente senhor, está tudo nas regras que senhor recebeu.

– Que regras?

– Essas que o senhor colocou no banco ao lado.

Nessa altura, eu já cheio de sono, não queria saber de mais nada e já tinha entendido que não ia dar pra discutir com o sujeito. Ou eu pagava ou … eu pagava. Não tinha saída.

Ainda por cima veio com a merda da taxa de serviço. Que serviço?

As morais dessa historinha, que podemos tirar:

“Se você não sabe direito pra que serve um produto de “alta tecnologia”, deixe os outros experimentarem primeiro. Depois você usa.”

“Numa noitada, se estiver sozinho, fique em casa lendo um bom livro. É mais tranquilo e mais barato.”