16 de maio de 2012

Um carinho no rosto é sempre bom

[Pediram que eu escrevesse um texto sobre “Como fazer a barba da melhor forma”, e saiu o texto abaixo]

É verdade. Quem não gosta de um carinho suave no rosto? Acho que poucos.

Então, pela manhã bem cedo, você vai para o banheiro cantarolando. Vai fazer a barba e trabalhar.

A espuma de barbear, abundante, cobre todo o rosto. Afinal, você quer os pelos suaves para serem cortados pela última novidade em aparelhos de barbear. O aparelho Five. São cinco lâminas que, garante o fabricante, deixará seu rosto como pele de neném.

Com muito cuidado você faz o primeiro movimento, de cima para baixo, e sente a lâmina deslizar suavemente. Faz o mesmo na outra face. Agora é o queixo. Você se distrai e um corte mínimo, com um filete de sangue, aparece.

Rapidamente você pega a pedra-ume e a pressiona sob o corte por alguns segundos. Já não sangra mais. Que bom!

Com mais cuidado, você vai para a região do bigode. O problema é quando tem que tirar os pelos na junção com o nariz. Que coisa difícil. Ainda mais com um aparelho de cinco lâminas. Então, você saca o aparelho de uma única lâmina e vai, com cuidado, raspando esses pelinhos mais chatos.

Pronto, chegou a área do pescoço, que sempre cisma de ficar empelotada e vermelha. O cuidado necessita ser redobrado.

8 de março de 2012

Nossa viagem, uma aventura.

Sem brincadeira! Eram cinco horas da manhã e eu já estava acordado, rolando na cama. Combinamos de acordar às 7h, tomar café e sair. Já estava quase tudo pronto.

Na noite anterior, deixamos “meio caminho andado”. Não! Meio caminho arrumado. Ainda não estava tudo nas malas, mas o que ia nelas já estava separado. Estava tranquilo.

Seis e meia e não aguentei. Levantei!

Espreguicei com um bocejo exagerado, tentando fazer a Euclésia acordar. Nada! Passei pelos quartos do Teodoro e da Natiga, abrindo as portas com uma delicada violência, tentando acordá-los. Adivinhem?

13 de outubro de 2009

Só contando.

Sentado no tosco banquinho de madeira, sob a luz de um antigo lampião com pavio de pituba1, Seu Nersinho contava histórias.

Pode parecer que isso foi num tempo onde crianças sentavam ao redor de um vovô contador de histórias, mas não. Isso foi em Ervália, uma cidade da zona da mata mineira, na década de 1970.

Seu Nersinho era o caseiro do sítio de um amigo — Sítio da D. Zizi — e estava sempre, como quase todo roceiro, pitando um cigarrinho de palha. Em volta dele, adolescentes, rapazes e moças, prestavam atenção em cada história contada.

E uma das histórias que me lembro, dentre outras, foi a das “luzes na estrada”.

1 de setembro de 2009

A crise do pobre

Todos, ou quase, continuam dizendo que não teve, e não tem, crise. Já até cheguei a ler a requentada brincadeira de tirar o “s” da crise. Eu não sei. Esse pessoal não vai ao supermercado?!
Até as notícias dizem que o preço disso subiu, daquilo subiu, e do outro também. Claro, sempre tem algum produto que o preço desceu. Principalmente daqueles que estão perto do vencimento da validade. Mas aí não é uma questão de crise e sim, de giro de mercadoria. Como não tem crise?
Mas não quero discutir esses detalhes.

Outro dia, o sujeito — aquele que parece, pela voz, que é sempre o mesmo, em qualquer supermercado — anunciava um computador com 4 GB de memória, HD de 320 MB e monitor LCD de 18,5” , por R$1300,00 e levava uma multifuncional.
Na época do meu primeiro computador — esse, a gente nunca esquece —, mesmo considerando todas as evoluções, seria um baita equipamento.
Parece que ninguém comprou, pois no dia seguinte o mesmo cara anunciava o mesmo computador por R$999,00 — pobre não perde a mania de comprar por R$1,99 — , mas agora, sem a multifuncional.
Quando você chega pra ver o produto, já surgem, do teto, pela direita e pela esquerda, três mocinhas perguntando se você não quer fazer o cartão, do próprio mercado. “Não, não! Só estou olhando.”
Ah! Mas elas não desistem e começam a desfilar 1000 facilidades. Chega uma hora que você não aguenta mais. “Não quero! Deu pra entender??!!”
Ninguém chegou pra ver o equipamento. Nem mesmo pra ver! Pra dar uma olhadinha! Afinal o preço é um pouco mais que dois salários mínimos. Isso dividido em 250 vezes, dá uma mixaria, que qualquer pobre pode comprar.
Deixa eu acertar um pequeno detalhe, já que fui questionado. Quem é pobre? Bem, se você melhorou um pouco de vida, mas chega no final do mês sem um tostão pra comprar, em muitas vezes, um pãozinho, você é pobre. Se você espera o final do ano pra negociar a escola ou a faculdade da(o) filha(o), porque usou a mensalidade pra comprar o pãozinho, você também é pobre. Se sua geladeira balança; se a máquina de lavar-roupa treina, o ano inteiro, para o carnaval; o empadão, no forno, assa mais atrás do que na frente e o seu carro, de vez em quando — mais em “quando” que em “vez” —, dá um probleminha, lamento dar-lhe a notícia. Você é pobre!
Isso esclarecido, voltemos à crise.
Bom, se o pobre não pode comprar o computador, é porque ele já comprou um pra família ou não tem dinheiro pra comprar ou então, não é pobre e vai comprar um muito melhor. Isso é crise!
Alegria de pobre é passear no supermercado, ouvir as promoções dos sonhos de consumo e pensar que um dia, quem sabe, poderá comprar. A tristeza é quando vê que o queijo comprado no mês passado, dobrou o preço. Isso é crise!
A TV LCD que baixou de 3 mil, pra mil e quinhentos reais, na promoção, não indica que melhorou. O supermercado é que não consegue vender. Mas o apresuntado não baixou. Na verdade, subiu. E os 250 gramas que você comprava pro lanche e pra lasanha de domingo, vai ter que se contentar com 150g. Isso é crise!
A esperança de novos tempos, éticos e sérios, depositados nas urnas há 9 anos, em 2002, foi pro brejo. Isso é crise!
Bem, se você também diz que não tem crise, parabéns! Veio só se divertir né??!!!!

[ também  no blog O Pobre, em http://opobre.wordpress.com ]

30 de abril de 2009

O Nariz

“Nariz, ai, meu nariz” já disse o artista único do Circo Sdruws, Juca Chaves. E que nariz, cá entre nós!

Mas o texto não é pra homenagear Juca Chaves — ainda que sempre merecido —, ou qualquer personagem que disponha de uma “nareba” respeitável. Se o texto homenageia alguma coisa, essa coisa é o nariz.

Mas a ideia de falar sobre uma parte do corpo humano começou quando percebi que em algumas vezes alguém nos chama a atenção e não sabemos o porquê. Pelo menos comigo isso acontece muito e não foi diferente na semana passada.

Num restaurante, me dei conta, de uma hora pra outra, que eu não parava de olhar a pessoa da outra mesa. Fiquei sem jeito, sem graça. Se eu ainda estivesse interessado … mas não era o caso. Como um ímã, os meus olhos eram atraídos para o rosto da moça, que nem era bonita o suficiente pra chamar a atenção. Mas lá estava eu, encarando aquele rosto.

Num lance, percebi! Era o nariz! Não o meu, ainda que seja uma bela bitácula.

A moça tinha um nariz perto da perfeição. O tamanho exato. Arrebitado, dando um ar de imponência, mas sem confundir com pretensão afetada. Destoava de restante do rosto, chamando a atenção para si. Um nariz com personalidade.

Não é o caso de escrever um tratado sobre o nariz, mas achei que merecia uma atenção maior. Afinal – lembrei depois – já conheci pessoas com narizes que roubam o ar ao redor, mas que no entanto, na combinação geral, fazem bonito na apresentação do visual.

Claro, há também os que estragam, totalmente, a aparência. Tem aqueles “atucanados”, que sequestram o oxigênio — e tudo que puder ser respirável — e enfeiam o ambiente.

Mas vejam só! Quem diria que o nariz consegue modificar o aspecto de um rosto, mais do que a cor dos olhos! Se nariz fosse natural de algum local, eu diria que ele é mineiro. É quietinho, na dele, não passa batom, não usa rímel, não tem cílios como moldura, mas é capaz de dar, ou tirar, o ar da graça de uma face.

Não que a boca, os olhos ou as orelhas não tenham importância. Claro que têm! Mas é o nariz que mais contribui. É ele que faz o “fechamento” da feição.

Bem, pessoal, eu acho que é isso.

Um cheiro procês!

27 de abril de 2009

Suíte High Tech

Aquela faixa enorme, gigantesca, na entrada camuflada, assustava e dava margens a diversas interpretações.

Comecei a me imaginar numa noite, sozinho, sem nada pra fazer. Poxa! Uma suíte high tech, tem que oferecer, no mínimo, uma companheira, ou um companheiro para as senhoras, de alta tecnologia. Coisa de ponta, mesmo.

Então, resolvo ir conferir.

– Boa noite!

– Boa noite senhor! – Em que posso lhe ajudar?

– Gostaria de usar a suíte High Tech.

– Pois não! – O senhor está só ou acompanhado?

– Estou só! Bem, tem a minha mão mas acho que essa não conta.

– Está certo senhor. Existirá taxa extra, que dependerá das suas escolhas. Que tipo de companhia o senhor prefere?

– Como assim?

– Comer não, aqui o senhor apenas escolhe. Temos loira, ruiva, seios fartos, nádegas grandes, tipo melancia, uva, abacaxi ou outra fruta qualquer. Floresta densa, cerrado, bigodinho ou deserto completo, o senhor decide. Temos também gays, casais, velhinhos e velhinhas. Aqui o freguês manda! – Senhor, senhor! Está me ouvindo?

– Sim, sim! Estava imaginando a mulher abacaxi! Vocês tem um papel para que eu possa fazer a minha montagem? – Ouvi ele cochichando para o colega: “Hii! Esse é daqueles indecisos”

– Perfeitamente! Temos, também, diversos acessórios. Gostaria de conhecê-los?

– Porque não? Estou aqui mesmo! Vamos lá! O que vocês têm?

– Temos banheira de ondas; tocador automático, que pode ser sem limite ou com fichas; máquina de café expresso; tipos variados de infláveis; vibradores, do tipo simples, duplo, triplo e quádruplo; parede de pedra para escaladas – fiquei pensando em como o sujeito transa, enquanto escala, ou o inverso.

– É só!

– Não, senhor. Temos os acessórios de apoio, como a TV de 52 polegadas com Home Theater, cama vibratória de 5 velocidades e 3 posições, fantasias do Robocop, Super-homem, National Kid, Battman, Robin, Flash, alguns políticos, além de um modelador instantâneo.

– Modelador o quê?

– Instantâneo senhor! Se quiser alguma fantasia que não esteja disponível, basta inserir a foto da pessoa, que o equipamento gerará a fantasia desejada. — Pensei, “imagine colocar a foto de um chefe ou um desafeto”!

– Estou gostando! O que tem mais?

– Senhor, temos tantos — o senhor aceita um café? —, tantos itens disponíveis, fora aqueles que podem ser desenvolvidos pela nossa equipe de design e oficina. Além disso …

– Quando eu dei por mim, eu já estava ali, apenas pra escolher o que eu queria, há mais de 3 horas. O sono já começa a incomodar. E o atendente não parava de explicar.

– Temos também babás de várias nacionalidades que poderão colocá-lo pra dormir.

– Sei! Sei! Meu amigo, vou deixar pra outro dia, pois hoje nada mais sobe. — Eu já sei! Vocês tem um acessório para essa situação, mas hoje, realmente, não vai dar.

– O senhor decide. Aqui está a sua conta.

– Conta? Que p.... de conta é essa? Só por causa do café?

– O café, o tempo que eu fiquei lhe explicando. Sim, pois sou engenheiro e administrador por Harvard, com pós-doutorado em SCFS (Sistemas Cibernéticos com Foco na Sacanagem).

– Sacanagem é que vocês estão fazendo comigo!

– Infelizmente senhor, está tudo nas regras que senhor recebeu.

– Que regras?

– Essas que o senhor colocou no banco ao lado.

Nessa altura, eu já cheio de sono, não queria saber de mais nada e já tinha entendido que não ia dar pra discutir com o sujeito. Ou eu pagava ou … eu pagava. Não tinha saída.

Ainda por cima veio com a merda da taxa de serviço. Que serviço?

As morais dessa historinha, que podemos tirar:

“Se você não sabe direito pra que serve um produto de “alta tecnologia”, deixe os outros experimentarem primeiro. Depois você usa.”

“Numa noitada, se estiver sozinho, fique em casa lendo um bom livro. É mais tranquilo e mais barato.”

21 de março de 2009

O Submarino Misterioso – Um conto escatológico

Olhado àquela distância, ficava camuflado pela água turva e pouca iluminação. Mas na primeira descarga de águas revoltas, jogado contra as paredes que o cercavam, transparecia sua verdadeira natureza. Sem qualquer marca, era impossível identificar o dono do artefato. A busca iniciou.

A chefia do comando, confiada a mim, logo identificou o possível dono. A corporação Rosa Choque. Talvez pela pouca idade e uma certa não obediência aos princípios fundamentais da convivência mundial, o indiciamento foi cumprido.

Pego de surpresa, o representante da mais nova corporação, imediatamente, negou a acusação de mau uso da água pública ao evacuar artefatos rejeitados sem a devida embalagem de proteção do PH. Tal atitude já era esperada.

Sabedores da existência de outra corporação, Dente de Prata, que deixava os rejeitos das suas experiências sob as águas de outros mares, resolvemos, igualmente, indiciá-la.

Já mais experiente nas negociações internacionais, o representante não refutou do apontamento de que sua organização utilizasse águas públicas para o descarregamento de dejetos líquidos e sólidos, enfatizando de forma contundente: Assim como todas as organizações!

Um misto de “Oh!” e “Ah!”, por mil vozes, encheu o salão da Ouvidoria.

Conseguindo o efeito pretendido, o representante da Dente de Prata trouxe o foco para o artefato em voga, levantando a hipótese de que uma ligação entre os mares e a existência de refluxos causados pelas marés, pode ter transferido o artefato apontado, de uma mar para outro.

A organização mãe, WK, patrocinadora confessa da Dente de Prata e, posteriormente, da Rosa Choque, colocou em cheque a posição oficial de que a Rosa Choque fora a última organização a navegar naqueles mares, inclusive levantando hipóteses de suborno no comando chefiado por mim.

Imediatamente o comando de acusação colocou-se em guarda e desferiu: O artefato pode sim; Por que não?; ser de propriedade da WK!

Pronto! A confusão estava formada e a questão diplomática que parecia de fácil solução, tornou-se um conflito que precisava ser contido, antes que evoluísse para um confronto sem precedentes.

Decidiram pela criação de uma nova ordem mundial. O primeiro parágrafo fala sobre a necessidade de cada organização utilizar a sua área própria de despejo.

Em outro parágrafo, diz que as corporações formarão uma comissão para vigiar e controlar o descarregamento de dejetos, bem como a utilização de combustíveis que não venham a poluir a atmosfera.

Outro parágrafo fala sobre a proteção do PH que, a partir da assinatura da nova ordem, deverá ser composto de folha dupla, garantindo a tranqüilidade mundial.

Nessa altura, muitos poderiam perguntar que fim levou o artefato que gerou toda a confusão. Ora, certamente alguém apertou o botão.

5 de março de 2009

A caneta pra retroprojetor

— Rola, rola pra debaixo do lápis que ele vem aí!

— Sai lapiseira! Deixa eu passar! — disse o marcador Azul.

— Pombas! Cadê o meu marcador, o Preto? — João! Você pegou a droga do meu marcador?

— Não Tonho! Eu tenho o marcador Vermelho, serve?

— Ah! Me dá essa droga mesmo!

Isso acontece todo dia! Não é fácil ser um marcador de CDs e DVDs, em uma fábrica. E eu vim parar aqui por engano. Ah! Meu nome é Caneta Marcador Preto, mas aqui na fábrica o pessoal me conhece como Pretão, por eu ser daqueles marcadores mais robustos.

Na verdade, me compraram para fazer parte do material escolar de uma aluna de curso superior. Fui utilizado algumas vezes para escrever em folha de transparência, dessas para retroprojetor. Já até escreveram em CD e DVD comigo, mas eram trabalhos de faculdade. Sempre foram atividades nobres para um marcador.

Um dia, sem querer — ou de propósito, não sei —, fui pego pelo irmão da garota, o tal de Tonho. Fui parar num quarto cheio de aparelhos eletrônicos. Fiquei sabendo depois que eram gravadores de CDs e DVDs. Bem, fui feito para escrever e acabei me conformando com o novo local.

Com o passar dos dias, fui ouvindo umas conversas que não estavam me agradando. Andavam dizendo que era uma fábrica de produtos piratas. Pensei alto, ainda que ninguém tenha escutado: “Tinha que acontecer comigo!”

O marcador Vermelho achava que não tinha nada demais, já que todo mundo copia todo mundo. Até nós — dizia ele —, os marcadores, já fomos pirateados.

— Mas Vermelho, isso não quer dizer que esteja certo. Nós estamos participando de uma atividade criminosa!

— Que criminosa o quê, Verde! O Tonho usa esse dinheiro pra cuidar da família. Afinal ele tem que sobreviver.

— Ah! Deixa de conversa. Isso aqui deve ser só fachada! A “coisa” deve ser bem maior! — Outro dia mesmo, fui com esse Tonho até um galpão enorme, cheio de caixas de madeira. Mas foi só o que eu consegui ver.

— Todo dia , à noite, eu saio com o pessoal para entregar os discos e me usam para escrever na embalagem. Algumas vezes as embalagens são diferentes, mas escrevem um código que desconheço — disse o Preto Fino.

E cada um tinha uma história pra contar. Uma mais cabeluda que a outra. E Vermelho sempre tinha uma defesa, uma outra história pra contar. Alguns, até ficaram do lado do Vermelho, concordando com ele.

Dois dias depois, o Vermelho chegou muito assustado, dizendo que precisava conversar comigo. Fomos pra trás dos livros.

Preto, lembra que eu contei que saía, algumas vezes, pra fazer umas marcações diferentes.

Claro que lembro. Pra onde você foi dessa vez.

Ah! Não sei pra onde. O que sei é que me utilizaram muitas vezes pra escrever em um pacote branco. Escreviam “COCA”.

4 de março de 2009

O Sabonete

Eu era capaz de sentir a temperatura do ambiente. Estava tão quentinho! E eu todo derretido, junto os meus irmãos. Estava começando a nascer para o mundo. Não tinha mais volta!

Humm! Comecei a escurecer! O que estará acontecendo? Será que estou queimando? Espere! A cor é lilás. Que bom! Ainda sou transparente.

Que perfume é esse? Parece de flores. Sim! É jasmim! Ah, serei um cara gostoso!

Olha, consigo ver uma luz. Estão levantando um véu com um bastão de vidro. Acho que chegou a hora.

Sim, estou na forma! Qual será a minha carinha? Serei um gatinho, um cachorro? Quem sabe uma flor? Uma rosa com cheiro de jasmim? Até que seria bacana.

Finalmente livre daquela forma. Pelo menos era de silicone!

Preciso me aprontar para poder ser embalado e colocado na cesta de vime.

Rapaz, como estou bonito! Todos, na minha cesta, estão bonitos!

— Para onde será que nós vamos? — perguntei ao coleguinha ao lado, Azul.

— Ah Lilás, espero que a gente vá para um local onde saibam apreciar as coisas belas.

— Tem razão Azul. Ninguém merece ficar em vestiário de jogador de futebol.

— Pior é quando começam com aquela brincadeira de deixar a gente cair no chão, pra ver quem se abaixa pra pegar — falou o Verdinho.

— Psiu! Tem gente chegando na loja!

O rapaz, elegante, indicou a nossa cesta. Parecia estar contente. Acho que é presente para namorada.

Ele jogou alguma coisa dentro da cesta, mas não deu pra ver o que era.

— Olha só Azul, que casa bonita!

— É, dessa eu gostei! Você viu o que ele colocou dentro da cesta?

— Não. Parece que caiu do lado do Verdinho.

— Ei! Verdinho! O que ele colocou aí?

— Um anel.

— Sintam o perfume na casa. Acho que aqui seremos bem tratados.

A moça achou o anel na cesta e ficou toda prosa com o presente. Nos deixou de lado e ficamos no canto do sofá até o final da noite, quando o rapaz foi embora.

Ela me pegou, com delicadeza, e me levou para o banho. Sentiu meu perfume suave e deu um sorriso.

Que bom — pensei —, vou ser feliz até os meus últimos dias.