8 de março de 2012

Nossa viagem, uma aventura.

Sem brincadeira! Eram cinco horas da manhã e eu já estava acordado, rolando na cama. Combinamos de acordar às 7h, tomar café e sair. Já estava quase tudo pronto.

Na noite anterior, deixamos “meio caminho andado”. Não! Meio caminho arrumado. Ainda não estava tudo nas malas, mas o que ia nelas já estava separado. Estava tranquilo.

Seis e meia e não aguentei. Levantei!

Espreguicei com um bocejo exagerado, tentando fazer a Euclésia acordar. Nada! Passei pelos quartos do Teodoro e da Natiga, abrindo as portas com uma delicada violência, tentando acordá-los. Adivinhem?

Fui fazer a barba cantarolando, ligeiramente alto. Senti que começou a surtir efeito.

De qualquer maneira, às 7hs eu já estava de barba feita, banho tomado e a trupe acordada. — Eu precisava deixar todos animados, pois era nossa grande viagem de cinco dias de férias. Estávamos indo para Boiçucanga, no litoral de São Paulo.

Fevereiro de 2011, o tempo estava ótimo depois de uns dias de chuva, e particularmente eu estava animadíssimo com a viagem. Era o meu primeiro carro com direção hidráulica e ar condicionado. Parecia uma criança com o seu carro moderno de controle remoto. Ah! Ainda tinha mais um detalhe: meu novo e moderno GPS, adquirido por um preço razoável na Rua 25 de Março.

Na noite anterior já tinha colocado o destino no GPS e verificado se estava cem por cento. Estava! Mas o “seguro morreu de velho” e fui verificar o aparelhinho. Aperta, aperta, aperta, aperta o botão e nada do aparelhinho ligar.

“Já sei! Descarregou a bateria.”

Liguei no carregador e nada. A coisa não estava saindo como planejado. O negócio foi abrir o danado do aparelho. Teodoro apontou: “Pai, vai perder a garantia!”

A fantástica garantia de 30 dias já tinha expirado. O que não podia era eu viajar sem o safado do aparelho.

Afastei os pratos da mesa do café e comecei a desmontar o desgramado do GPS. A porcaria da pecinha que faz o papel de interruptor tinha quebrado. Peguei o ferro de solda — da época da faculdade — e soldei dois fiozinhos, que passei pelo buraco onde ficava o botãozinho e deixei-os pendurado.

Ficou fácil. Para ligar, encostava os dois fios e para desligar fazia o mesmo. Quando dava contato, era assim que funcionava.

Quando liguei a droga de GPS eu disse: “Ninguém encosta nesses fios para não desligar essa $%&*.”

As 10h30min, mais ou menos, estávamos começando a tomar o café da manhã. As três horas da tarde estávamos saindo de casa, com o bom humor mais ou menos recuperado.

Pegamos a estrada. Era uma quinta-feira, a estrada estava tranquila e pelas minhas contas — já nem considerava a previsão do GPS — chegaríamos por voltas 18h, já que gosto muito de parar, tomar um café, conversar... Fazer uma viagem sem pressa.

Já deviam ser 17h ou bem próximo desse horário. O GPS apontou uma entrada a direita, saindo da estrada principal. Por uma coincidência, tinha uma droga de placa, apontando Boiçucanga. Entramos sem pestanejar.

Era uma estradinha de paralelepípedos e digo “era” pois transformou-se em uma estradinha de barro. Como tinha chovido no dia anterior, o barro não estava muito firme, com umas depressões de terreno que seu andasse a 20km/h, todos ficariam batendo a cabeça no teto.

E eu querendo animar a turma: “Vamos gente! Clima de aventura!”

Uma 18h e alguma coisa, vimos praia. “Oba! Já estamos chegando!” — Disse alguém. Estávamos chegando em uma vila que ficava muito antes de Boiçucanga. O desgraçado do GPS continuava apontando o caminho, como quem diz: “Vai por mim que você vai bem.”

Em certo momento, todos queriam fazer xixi e a cada balançada do carro era uma gritaria dentro do carro. “Vai sair! Vai sair!”

Perto das 20h, tudo escuro e passávamos por um lamaçal dos diabos. Carro pesado em barro mole, afunda e atola. Foi o que aconteceu. Nunca eu quis tanto um carro com tração nas quatro rodas! Quanto mais eu acelerava, mais afundava.

“Gente, vamos trabalhar! Vamos encontrar tábuas para calçar as rodas e sairmos daqui.”

Tábua, galho, pedra e tudo que encontrávamos, colocávamos embaixo das rodas. Enquanto Euclésia acelerava tentando tirar o carro do atoleiro, nós três o empurrávamos, enquanto levávamos um banho de lama. Mas o carro sair do lugar? Neca!

Era mato de um lado e do outro, daquela estradinha. O medo de que saísse algum bicho dali, tornava a situação assustadora. Rezar, já estava parecendo uma boa ideia. Afinal, não era em vão.

As 22h, estávamos os quatro com lama dos pés à cabeça, com muita fome e muita sede. Veio um carro. O desespero era tanto que não pensamos em pedir ajuda, mas preocupados porque que não cabiam dois carros naquela estrada. Era um jipe ou algo parecido, pois juro que não sei qual era o carro. Soube depois que era um 4X4.

Ficamos fazendo sinal, dizendo que não dava para passar. As duas pessoas do outro carro deviam estar ressabiadas com um carro parado e quatro pessoas enlameadas, sacudindo as mãos. O 4X4 parou alguns metros antes de chegar ao local.

Fui sozinho falar com eles e expliquei o que estava acontecendo. Quase que caí de joelhos fazendo o sinal da cruz — mas fiz em silêncio — quando disseram que tinham uma corda e poderiam nos puxar.

Onze horas da noite, desatolados, o carro imundo por dentro e por fora, os quatro emporcalhados de lama e seguimos viagem. Larguei a informação do GPS de lado e entrei na primeira rua asfaltada que tinha.

Eu xinguei tanto, mas tanto. Eu berrava palavrões dentro do carro. Saí na estrada que estava no início.

Se eu tivesse seguido a estrada e não entrado na estradinha que o GPS indicou, não teríamos levado mais do que uma hora até o destino.

Pelo menos, contado hoje, é divertido.

Um comentário:

Thaíx Costa disse...

Com certeza, muito divertido. O tipo de situação que na hora é terrível, mas quando é lembrado depois vira uma grande piada. rsrsrsrs

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